A que igreja você vai?
Jamais gostei dessa pergunta, mesmo quando era capaz de responder a ela citando uma organização especifica. Conheço seu significado cultural, mas ela se baseia numa falsa premissa- a de que a igreja é um lugar aonde se pode ir, da mesma maneira como se vai a um evento, a uma festa ou se freqüenta um grupo organizado. Penso que Jesus vê a igreja de modo totalmente distinto. Ele não fala dela como de um lugar aonde se vai, mas como um modo de viver na relação com Ele e com os que O seguem.
“Igreja” é uma palavra que não identifica um local ou uma instituição. Ela descreve um povo como os membros desse povo se relacionam uns com os outros. Quando se perde isso de vista, nossa compreensão da igreja fica distorcida e deixamos de usufruir a alegria que ela pode nos dar.
Você não estará apenas tentando escapar da pergunta?
Sei que o que eu disse pode soar como um mero jogo de palavras, mais as palavras são importantes. Quando atribuímos o termo “igreja” somente a cultos semanais ou a instituições que se autointitulam “igrejas”, perdemos o significado profundo do que seja viver como corpo de cristo. Isso nos dá uma falsa sensação de segurança, fazendo com que achemos que, por comparecer a um encontro uma vez por semana, estamos participando da igreja de Deus.
Da mesma forma, ouço as pessoas falando em “abandonar a igreja” quando deixam de freqüentar determinada congregação. Mas se a igreja é algo que somos, e não um lugar qualquer a que comparecemos como é possível abandoná-la, a não ser que abandonemos o próprio cristo?
A idéia de que apenas aqueles que se reúnem nas manhãs de domingo para assistir a uma celebração religiosa ou a uma palestra fazem parte da igreja- excluindo os demais- seria estranha a Jesus. A questão não e onde estamos num determinado momento do fim de semana, e sim como estamos vivendo com Jesus com outros fies ao longo da semana.
Mas não precisamos de reuniões regulares?
Eu não diria que precisamos de reuniões. Se vivêssemos num lugar onde não fosse possível estar com outros fiéis, Jesus certamente seria capaz de cuidar de nós. Assim, eu colocaria a pergunta de forma um pouco diferente: as pessoas que estão aprendendo a conhecer melhor o Deus vivo vão querer ligações reais e significativas com pessoas que compartilham a mesma crença? Evidentemente! O chamado para reino de Deus não é um convite ao isolamento.
Minha tradução predileta de vida em comunidade é a de um grupo de pessoas que escolhem caminhar juntas durante um pequeno trecho de jornada, cultivando amizades estreitas e aprendendo juntas a ouvir Deus.
Nós não deveríamos estabelecer um compromisso com determinada instituição?
A idéia de compromisso com determinada instituição é repetida com tamanha freqüência que a maioria de nós chega a acreditar que ela se encontra em algum trecho da Bíblia. Mas eu nunca encontrei. Muitos de nós fomos levados a crer que se não tivéssemos a “cobertura do grupo” cairíamos no erro ou em pecado. Mas será que isso não acontece também no interior da nossa igreja particular?
Sei de muita gente que, apesar de não pertencer a qualquer instituição, não só desenvolve um relacionamento em grande profundidade com Deus como estabelece com outros crentes ligações mais intensas do que as que manteriam dentro da instituição.
Claro que pode ser útil participar regularmente de determinada instituição. Mas nos enganos totalmente quando acreditamos que a comunhão só se dá por freqüentarmos o mesmo evento juntos regularmente u por pertencermos à mesma organização.
Mas as nossas instituições não nos livram do erro?
Sinto discordar, mas toda grande heresia que oprimiu o povo de Deus nos últimos 2 mil anos proveio de grupos organizados com “lideres” que achavam que detinham com exclusividade o conhecimento da mente de Deus.
Se é na instituição que você espera obter segurança, receio que esteja sumamente equivocado. Jesus não nos disse que “ir a igreja” nos salvaria, mas que confiar Nele, sim.
Isso significa que as congregações tradicionais estão erradas?
Absolutamente! Tenho encontrado em muitas delas gente que ama Deus e está buscando crescer em Seus Caminhos. Jesus está no centro de sua vida comunitária, e os atuam como líderes são verdadeiros servos e não fazem jogo político de controle e manipulação, de maneira que todos são incentivados a se cuidar reciprocamente.
Mas creio que devemos admitir que ainda são exemplos raros nas nossas comunidades. Muitas resistem por um curto período, para depois, mesmo inconscientemente, passarem a oferecer respostas institucionais às necessidades dos seus membros, em vez de permanecerem dependentes de Jesus. Se isso ocorrer, não se sinta condenado caso Deus não o conduza junto com elas.
Então eu deveria deixar de ir à igreja?
Receio que essa pergunta também esteja mal colocada. Não creio que você vá à igreja mais do que eu. Todos nós somos parte dela. Faça sua parte da forma como Jesus lhe pede e nos lugares em que Ele o coloca. Nem todos nos desenvolvemos no mesmo ambiente.
Se você se reúne com um grupo de cristãos numa hora e num lugar determinados, e se essa participação o ajuda a ficarem mais próximos de Jesus e de seguir a obra Dele em você, eu não acho, de modo algum, que deva sair. Tenha em mente, porém, que essa não é a igreja, mas apenas uma das muitas expressões dela no local em que você vive.
Ou seja: Reunir-se em casa é a resposta?
É evidente que não. Mas sejamos claros: por mais agradável que seja participar de cultos em grandes ambientes e ter mentores talentosos, o autentico prazer da vida em comunidade não pode ser partilhado em grupos excessivamente grandes. Durante seus primeiros 300 anos a igreja primitiva encontrou nas casas o lugar perfeito para se reunir. Os ares são muito mais adequados à dinâmica familiar, que é como Jesus descrevia seu corpo.
Mas reunir-se em casa não é a solução. Participei de algumas reuniões caseiras bastante problemáticas e encontrei em instalações convencionais grupos que partilhavam uma genuína vida em comunidade. Mas eu pessoalmente prefiro grupos menores que se reúnem em casa. Sei que isso não é muito comum hoje em dia, pois as pessoas consideram mais fácil freqüentar um culto tradicional, com seus cantos e rituais e depois ir para casa, sem nunca ter que se abrir a respeito da própria vida ou demonstrar interesse ela jornada de outras pessoas.
O que verdadeiramente me importa não é onde ou como as pessoas se reúnem, mas se elas se concentram ou não em Jesus e se de fato ajudam-se uma às outras para se tornarem como ele. A questão aqui é sobretudo a qualidade do relacionamento.
Você está Reagindo a alguma dor?
Possivelmente todos nós já experimentamos algumas espécie de dor ao tentar adequar a vida de Deus às instituições. Durante bastante tempo muitos se mantiveram nelas, na esperança de que, mudando algumas coisas, tudo iria melhorar. Embora possamos ter tido algum êxito em certos momentos de renovação, acabamos descobrindo que a adaptação que toda instituição exige é incompatível com a liberdade de que as pessoas necessitam para crescer em cristo. Isso ocorreu cm praticamente todos os grupos que se constituíram ao longo da história d cristianismo.
Você esta em busca da igreja perfeita?
Não, e não acredito que venha a encontrá-la neste lado da eternidade. Minha meta não é buscar a perfeição, mas encontrar gente que faça de Deus sua prioridade.
Confesso que me sinto profundamente incomodado com a situação em que se encontra o cristianismo institucional. Boa parte do que hoje chamamos de “igreja” não passa de uma encenação bem planejada, com pouquíssima ligação efetiva entre os fiéis. Estes são muito mais estimulados a depender cada vez mais do sistema ou de seus líderes do que do próprio Jesus. Gastamos mais energia adaptando nosso comportamento àquilo de que a instituição necessita do que ajudando as pessoas a se transformarem!
Cansei de tentar estabelecer uma comunhão com gente que concebe a “igreja” apenas como um lugar onde um grupo passa duas horas por semana expiando a culpa, enquanto vive o restante da semana com as mesmas prioridades mundanas. Cansei daqueles que exaltam pelos outros. Cansei de gente insegura que usa o corpo de cristo como uma extensão de seus egos e que manipula a comunidade para satisfazer as próprias necessidades. Cansei de sermões que contem mais regras e moralismo do que a liberdade do amor divino e nos quais os relacionamentos ficam em segundo plano perante as demandas da instituição.
Mas será que nossas crianças não precisam de atividades na igreja?
Eu diria que o que elas precisam realmente é ser integradas à vida de Deus por meio da comunhão com os demais fiéis. Noventa e dois por cento das crianças que freqüentam regularmente as escolas dominicais dotadas de todo tipo de entretenimento sofisticado abandonam a “igreja” quando deixam a casa dos pais. Em vez de encher nossos filhos de regras morais e regulamentos, precisamos mostrar-lhes como viver juntos na vida de Deus.
Os próprios sociólogos nos dizem que o principal fator que leva uma criança a florescer em sociedade é possuir amizades pessoais profundas com outros adultos além de seus parentes próximos. Nenhuma escola dominical é capaz de cumprir essa função. Sei que estou remando contra a maré, mas é muito importante que nossos filhos experimentem a verdadeira comunhão entre fiéis do que a badalação de um programa pra crianças bem-comportadas.
Que Dinâmica de vida em comunidade você persegue?
Estou sempre em busca de gente que esteja tentando seguir o Cristo vivo. Ele está no centro das vidas, das atenções, das conversas dessas pessoas. Elas parecem autenticas e deixam as demais livres para questionar, duvidar, discordar e para seguir a voz do Senhor sem serem acusadas de rebeldia ou de separatismo. Busco gente que não desperdice seu dinheiro em construções extravagantes ou em programas feitos para impressionar. Procuro pessoas que se sintam em comunhão, mesmo quando estão ao lado de estranhos. Vou em busca de grupos em que todos participam ativamente e não são meros assistentes passivos colocados e uma distância segura do chamado líder.
Desse modo você não estará dando as pessoas um pretexto para que fiquem em casa fazendo nada?
Espero que não, mesmo sabendo que esse risco existe. Compreendo que algumas pessoas que abandonam as congregações tradicionais acabem se acomodando e se omitindo de qualquer vida eclesial. Também não sou a favor de quem fica por aí, pulando de igreja em igreja, atrás da ultima moda ou da melhor oportunidade para satisfazer seus desejos mais egoístas.
A maior arte das pessoas que encontro e com quem falo porem, não está fora do sistema por ter perdido a paixão por Jesus ou por Seu povo, e sim porque as congregações tradicionais mais próximos não foram capazes de lhes satisfazer a fome de relacionamento. Estão em busca de expressões autenticas de vida em comunidade e pagam um preço altíssimo para alcançá-las. Pode acreditar em mim: todos nós acharíamos mais fácil nos deixar levar pela maré, mas, depois de experimentamos a comunhão viva entre fiéis fervorosos, é impossível nos conformarmos com menos.
Essa concepção de igreja não criaria uma divisão?
Não acho. As pessoas criam a divisão ao exigir que as demais se adaptem à sua própria revelação da verdade. Muitos de nós, na jornada, somos acusados de promover a divisão porque liberdade pode ser ameaçadora para quem encontra segurança num sistema religioso fechado. Mas a maioria de nós não esta tentando convencer outras pessoas a abandonar suas congregações. Consideramos a comunidade cristã grande o bastante para acolher o povo de Deus, seja qual for a maneira pela qual Ele o reúna.
Hoje não precisamos mais ficar falando sobre a igreja.
Precisamos é de gente preparada para viver a realidade dela.
Onde se pode encontrar essa espécie de comunhão?
Não há uma resposta fácil para essa pergunta. Essa comunhão pode estar bem à sua frente, vivida com companheiros com quem você partinha livremente a vida. Pode estar na sua rua ou na mesa ao lado da sua no ambiente de trabalho. Você também pode se engajar em atividades assistenciais que beneficiam os mais necessitados e carentes do seu bairro como forma de colocar em prática a vida de Deus em você, e aí encontrar outras pessoas com fome semelhantes à sua.
Não espere que essa espécie de comunhão se dê facilmente dentro de uma organização. Olhe em torno e talvez você descubra que Jesus já o guiou até onde há comunhão. Acredite nisso, e Ele reunirá meia dúzia de companheiros com os quais você possa compartilhar a jornada. Talvez eles não pertençam à sua congregação. Serão vizinhos ou colegas de trabalho que estão seguindo Deus.
Não espere que isso seja fácil ou que ocorra tranqüilamente. Ser obediente a Jesus demandará certas decisões específicas de sua parte. Descartar velhos hábitos e ser livre para ser livre para permitir que Ele erga sua comunidade em torno de você exigirão algumas preparação, mas certamente valerá a pena. Sei que incomoda certas pessoas fato de eu não tomar meu assento num banco de igreja todo domingo de manhã, mas posso lhe garantir, com absoluta certeza, que meus piores momentos fora da religião institucional são, ainda assim, melhores do que meus melhores dias dentro dela. Para mim, a diferença é como ficar escutando alguém falar de golfe ou jantar alguns tacos e sair para jogar. Estar na igreja em torno da vida de Jesus é sair para jogar. Hoje não precisamos mais ficar falando sobre a igreja. Precisamos é de gente preparada para viver a realidade.
Anexo
Este texto , publicado na edição de maio de 2001 de BodyLife ( WWW.lifestream.org), vem circulando pelo mundo para oferecer uma perspectiva e uma argumentação capazes de ajudar as pessoas a compreender como é possível abraçar a vida em cristo por mais outras formas de relacionamento além das que a tradicional vida eclesiástica costuma proporcionar. É uma resposta a todos aqueles que defendem a necessidade de se pertencer a uma instituição determinada para fazer parte da igreja.
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